Ah! Quantas primaveras!

Crônica
 

[Mesmo com todos os anos, as árvores antigas mantém a mesma magia. Quantas histórias se passam por ali! Foto: skyscrapercity.com]

 

Lá estava eu sentada no banco da praça. Sabe aquela praça por onde todos passam, riem um para o outro? Onde velhinhos vivem jogando baralho e irradiando simpatia a todos... onde as árvores são lindas e verdes e, após uma hora de caminhada, oferece repouso para minhas cansadas pernas!? Mas aquela não era uma praça qualquer, era a praça da minha cidade... ah, Cordeirópolis! Então, por este e por mais mil motivos, ela nunca deixará de ser especial.
Meus olhos piscaram e, de repente, refleti sobre o que seria daquela praça sem as pessoas, sem as anciãs enraizadas que carregam em cada folha que cai ao chão a esperança, sem o vento a sussurrar em meus ouvidos e solenemente bater em meus cabelos e bagunçá-los... mas, afinal, o que seria dali sem os velhinhos que todos os dias se reúnem para jogar cartas nas mesinhas construídas especialmente para eles? Conseguem imaginar isso? Quanta alegria! Que praça especial! Talvez eles estejam lá também para se encontrarem e darem um ao outro o prazer de terem um amigo e ensinarem que por mais que o tempo tenha passado a vida ainda não acabou!
Permaneci sentada sozinha e, no decorrer da reflexão, avistei uma mulher com muitas primaveras, mas não era uma senhora qualquer. Eu sentia dentro de mim que aquela dama era especial.
Ela também estava sentada sozinha do outro lado da praça, talvez reparando na natureza, nas maravilhas da vida. A coitadinha tinha os cabelos brancos, a pele enrugada, talvez não sorrisse porque não tinha seus lindos e queridos dentes, que se perderam no decorrer das estações.
Comparei aquela dama com uma linda e gigantesca árvore imponente ao lado do banco no  qual eu ali estava sentada. Quanta semelhança! Aquela árvore já foi uma semente, logo depois virou um broto e, em seguida, virou uma muda, e depois virou uma pequena árvore, e logo cresceu, e depois se transformou, e deu seus frutos, e aos poucos envelheceu, mas continuou com sua beleza esplêndida. E, a cada momento, fui tendo a certeza de que aquela senhora dava um colorido diferente àquele cenário.
Aos poucos, fui me aproximando daquela humilde senhora, até que comecei a sentir ternura por suas alvas madeixas e não deixei de notar que nós duas tínhamos muito em comum.
Fui chegando cada vez mais perto, já sentindo. Sintam que delícia! Sentei-me ao seu lado, olhei no fundo dos olhos dela e consegui a coragem para me desculpar: “Como sou distraída! Desculpe-me, vovó, estou distraída”.
 

SILVA, Bárbara Maria Carneiro da.
 


 

 
 

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